Com a chegada das férias escolares e o aumento do tempo das crianças dentro de casa, os acidentes domésticos voltam a preocupar autoridades de saúde em Alagoas. Entre janeiro e setembro de 2025, o estado registrou 84 internações por queimaduras em crianças de 1 a 4 anos, ocupando a 15ª posição no ranking nacional, segundo levantamento da Organização Nacional de Acreditação (ONA), com base em dados do Datasus.

No Hospital Geral do Estado (HGE), em Maceió, as queimaduras seguem entre as principais causas de atendimento infantil, acendendo um alerta para os perigos dentro do lar, especialmente em períodos de férias e calor intenso.

De acordo com a médica Edigleide Soares Castro, especialista em Clínica Médica do Centro de Tratamento de Queimados (CTQ) do HGE, os casos mais frequentes envolvem queimaduras por escaldadura, provocadas pelo contato da pele com líquidos quentes. As principais vítimas são crianças de colo e até três anos, faixa etária considerada mais vulnerável por ainda não ter noção de perigo. “São crianças que dependem integralmente da supervisão dos adultos. Um descuido de poucos segundos pode resultar em queimaduras graves”, destaca.

Edigleide Soares Castro

Área de risco

A maioria dos acidentes ocorre dentro de casa, principalmente na cozinha, apontada como o cenário mais comum dessas ocorrências. Entre os líquidos mais frequentemente envolvidos estão mingau, leite, macarrão instantâneo e água quente usada no preparo do café. Situações rotineiras, como panelas com cabos voltados para fora do fogão, xícaras deixadas na borda da mesa ou recipientes recém-retirados do fogo, podem causar queimaduras graves em questão de segundos.

Segundo a Sociedade Brasileira de Queimaduras, cerca de 70% dos acidentes acontecem no ambiente doméstico, e a faixa etária de 1 a 4 anos é a mais atingida, devido à curiosidade, agilidade e pouca percepção de risco.

Além das escaldaduras, especialistas alertam para outros perigos, como queimaduras por chamas e líquidos inflamáveis, geralmente menos frequentes, porém mais graves; queimaduras químicas, principalmente pela ingestão de soda cáustica; acidentes com pilhas e baterias, devido ao material corrosivo; e choques elétricos, muitas vezes causados por tomadas sem proteção, fios desencapados ou extensões improvisadas. No verão, a exposição excessiva ao sol, especialmente entre 10h e 16h, também pode provocar queimaduras solares em crianças.

Outro ponto de preocupação é o atendimento inicial inadequado. De acordo com as especialistas, ainda é comum o uso de receitas caseiras, como gelo, pó de café, creme dental, manteiga, margarina, óleo, clara de ovo ou pomadas espessas à base de óxido de zinco. Essas práticas podem agravar a lesão, dificultar a avaliação médica e aumentar o risco de infecção.

A orientação correta é resfriar a área afetada com água corrente fria, nunca gelada, por 10 a 20 minutos, sem esfregar. Objetos como anéis e pulseiras devem ser retirados antes do inchaço, roupas grudadas na pele não devem ser removidas e bolhas não devem ser estouradas. É fundamental procurar atendimento médico imediato em casos de bolhas extensas, dor intensa, febre, sinais de infecção ou quando a queimadura atinge rosto, mãos, pés ou genitais.

Para os especialistas, a prevenção continua sendo a principal forma de reduzir os números. Medidas simples, como virar os cabos das panelas para dentro, evitar toalhas compridas sobre mesas, manter líquidos e produtos químicos fora do alcance das crianças, proteger tomadas, testar a temperatura da água do banho, redobrar a atenção com micro-ondas, ferros de passar, chapinhas, churrasqueiras e fogueiras, além do uso correto de protetor solar, podem evitar grande parte dos acidentes.

 

Cenário nacional

No mesmo período, o Brasil registrou 3.613 internações por queimaduras em crianças de 1 a 4 anos. O Nordeste lidera em números absolutos, com 1.109 casos, seguido pelo Sudeste (938), Sul (777), Centro-Oeste (527) e Norte (262). 

Embora os dados não considerem a proporção de crianças em cada região, o cenário reforça o alerta dos especialistas para a necessidade de vigilância constante e prevenção, especialmente durante as férias escolares e nos meses mais quentes do ano.